Himbas (parte III)

 
Hábitos e costumes

Neste último artigo da trilogia sobre os Himbas vamos abordar mais detalhadamente as particularidades deste povo nos seus hábitos e costumes.

Socialmente os Himbas são poligâmicos e no caso desta tribo que visitámos o chefe Kapika tem duas mulheres, vivendo a mais velha com ele e a segunda mulher, mais nova, vive numa cabana à parte mas de dimensão semelhante à do chefe.

Chefe Kapika

Segundo o guia nos explicou, o tempo máximo que um homem pode passar com uma mulher são dois dias, devendo depois rodar pelas outras mulheres.

As mulheres Himbas cobrem o corpo com “otjize”, uma pasta feita de pó de pedra ocre (hematite) misturada com gordura e resinas o que lhes confere uma cor avermelhada, característica das mulheres deste povo.

Segundo explicaram, as mulheres cobrem o corpo com esta pasta por duas razões principais, primeiro devido à escassez de água (só os homens a usam na higiene pessoal), elas não se podem lavar com água e em segundo lugar assim ficam protegidas da radiação solar e das picadas dos mosquitos.

A distribuição das tarefas na sociedade Himba confere às mulheres uma vida bem mais dura do que a dos homens.

Logo pela manhã, antes de sair o gado para as pastagens, devem ordenhar as vacas e as cabras, devem também ir buscar água e lenha, bem como cozinhar.

São elas que tomam conta das crianças.

Além destas actividades diárias, são também as mulheres que constroem as cabanas com esterco dos animais.

Os homens, limitam-se a tomar conta do gado e a tratar da organização social da tribo.

Devido á escassez de água, as mulheres fazem a sua higiene diária usando fumo originado pela queima de ervas aromáticas junto com carvão incandescente que previamente colocam numa pequena tijela.

Começando o fumo a subir, então elas curvam-se sobre o fumo cobrindo-se com uma manta para transpirarem (devido ao calor) e assim aprisionarem o fumo que lhes permitirá fazer a sua higiene diária.

As mulheres preparam de manhã e à noite uma mistura de leite azedo com milho e água – “orehere”.

Usam também mel e seiva de árvores para cozinhar tornando a comida menos amarga.

Como para os Himbas o gado é a sua riqueza principal, só comem carne ocasionalmente, fazendo-o somente em ocasiões especiais.

O gado é morto por asfixia, porque as facas são proibidas na matança do gado, depois usam as peles em diversas aplicações e comem todas as partes dos animais cozinhando-as ao estilo tribal.

Os Himbas não usam roupas convencionais, vestem-se usando uma espécie de tanga para cobrir as zonas íntimas.

Dão muito valor aos adornos que usam e à forma como tratam os cabelos, porque o aspecto tem um significado simbólico muito importante para mostrar aos outros de forma inequívoca se são solteiros, casados, jovens, adultos, rapazes, raparigas, etc.

Assim as crianças desde pequenas usam tranças na cabeça, tendo as raparigas duas tranças caídas para a frente e os rapazes uma trança caída para trás ou o cabelo rapado.

à esquerda rapaz, à direita rapariga

Depois da fase da puberdade, os rapazes deixam crescer uma trança para trás da cabeça que e que fica esticada para mostrar quem são.

As raparigas então usarão várias tranças, cobertas de “otjize” o que lhes confere a característica mais conhecida das mulheres Himbas.

Segundo alguns textos que li, as mulheres um ano depois de casar ou depois de ter o primeiro filho, usam no cimo da cabeça uma espécie de pequeno chapéu “erembe” para sinalizar esse facto e afirmarem a sua situação.

Noutros textos afirma-se também que após a puberdade as mulheres podem usar o “erembe”, que é feito a partir de pele de vaca ou de cabra.

As mulheres Himbas casam cedo, entre os 13 e os 17 anos normalmente.

Os homens uma vez casados não usam mais a trança característica dos solteiros, e passam a usar um turbante para cobrir a cabeça rapada.

Os colares e pulseiras são usados pelas mulheres e têm sempre um simbolismo muito pessoal e por vezes diferenciado entre elas, sem regras aparentes.

As mulheres cuidam muito da sua imagem e fazem-no ocupando uma parte importante do seu tempo.

Quando visitámos a tribo as mulheres não usavam os colares mais trabalhados porque recentemente tinha falecido um familiar da tribo e estariam assim a respeitar a morte desse ente querido.

A primeira mulher do chefe estava entretanto a cuidar dum desses colares.

Numa das cozinhas desta tribo deixaram-nos entrar embora sem autorização para tirar fotografias, para podermos observar o cuidado com que as mulheres estavam a tratar das tranças usando cinza para a sua limpeza e higiene.

Por último, referir que sendo o gado, como já anteriormente foi explicado, a principal riqueza deste povo, os principais problemas e desacatos se resolvem com a aplicação de “multas” traduzidas em gado, por exemplo (informação obtida na internet):

Se alguém ferir outro, deve pagar 8 bois.

Se as feridas matarem, 35 bois para um homem, e, 45 bois se for uma mulher.

Se um homem dorme com a mulher de um outro 6 bois, 3 bois são para o homem e 3 bois são para a mulher.

Fica aqui neste ultimo artigo o registo do que vimos e ouvimos sobre este povo que tem uma história e uma cultura antiga muito interessante.

Em África existirão seguramente muitas outras etnias que têm as suas particularidades e às quais por não podermos aceder facilmente, não poderemos conhecê-las mais em detalhe, mas os Himbas desde o primeiro contacto que tive com eles em Ruacaná, e depois do que li sobre eles, fascinaram-me.

Esta visita a uma aldeia meia turística, meia a sério, mesmo assim sendo, foi muito interessante.

Epupa Falls, tribo Himba do chefe Kapika, Julho 2017

 

2 thoughts on “Himbas (parte III)

  1. Caro “O Viajante”
    Começo por lhe agradecer as reportagens que me tem enviado, nomeadamente, sobre Angola país onde vivi e que transporto comigo. Muito obrigado!
    Sou o proprietário da Casa do Secolinho em Aldeia das Dez onde, esteve hospedado há dois/três anos. Teve a amabilidade de nos enviar uma foto de reportagem tirada da janela do seu quarto, com o enquadramento de milhares de pássaros migratórios.
    Lamento não conseguir relacionar “O Viajante” com o nosso hóspede cujos contactos retivemos para facturação.
    Gostaria de ter essa foto publicada nas nossas páginas.
    Será possível facultar-nos a foto em formato compatível e o respectivo consentimento para os post?
    Fico na expectativa da sua resposta.
    Abraço.

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